UMA FRAÇÃO INTERIOR
Desesperadamente eu chamava o seu nome e fixamente o meu olhar buscava no vazio um sinal, uma luz. Aquele angustiante labirinto de nada, de força crescente dentro de mim serpenteava contorcendo-se, buscando os porquês e as afirmações.
-Quem está aí?
O que cala o que perguntado foi parece alado está, em uma alucinante sintonia com a paz.
-Aparência.
Sem o olho que tudo vê não se consegue transparecer o que dentro borbulhando está a ficar; os tormentos e as angustias, decepções, as alegrias, o arfante desejo, as erupções, colapsos de emoções, a vida a fervilhar. Pergunto mais uma vez o mesmo questionamento telepaticamente a indagar, repetindo como um rígido disco arranhado numa vitrola manual. Incansavelmente, descontroladamente aquela ponta de lança metálica, rígida e sonora ponteia em meu ser me deixando descontrolado, no fio do precipício, no meio da incerta realidade. Os olhos que decodificam as imagens já não sabem se são mais os meus e se o que visto está sendo, compõe o mesmo espaço ou se são filamentos de momentos que vagam desprendidos em meu ser. A gota quente rola sobre a pele jovem em sinal de sentimento real, em busca do socorro infinito, da ajuda interior, da força sobre humana, da certeza de poder saber.
-Quem estava ali.
Um segundo interior é o tempo suficiente de uma bomba implodir; do preparo, cuidado, do estudo e da sua glamorosa realização. Chamo você como se fosse o pavio dessa luz flamejante, desse mundo alucinante, do meu mundo incolor.
Juscio Marcelino de Oliveira
27 de novembro de 2010 (sábado).