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quinta-feira, 26 de abril de 2012





  A BEIRA DE UMA LUCIDEZ


 Saindo de casa para mais um dia de descobertas no mundo do conhecimento, parei no primeiro batente do velho portão de ferro, segurei o ferrolho desgastado e ali fiquei a olhar as coisas, pessoas, as folhas e papeis de embrulhos soltos ao ar. Uma lacuna se abriu na monotonia diária, daquela velha rotina; Será que todos os dias essas pessoas passam por aqui? As folhas mortas dos frondosos pés de mangueiras caem diariamente e se juntam ao que jogado é pelas pessoas que ali passam. Quem são eles? De onde vem? Para onde vão? Porque eu nunca tinha me sentido de tal forma? Percebi que o vento soprava diferente naquela manhã sombria. Sombria? Será que todas as manhãs eram daquele jeito e eu nunca tinha notado? Os porquês circulavam os meus pensamentos como um enxame de abelhas. Pára! Será que eu estou surtando? Nunca me senti tão inseguro.

              -Bom dia.

O que? Quem será? Porque me cumprimentou? Será que essa senhora me conhece de algum lugar ou só quis ser educada? Será que ela está interessada em algo mais e com aquela saudação ela tentou me fazer entender a sua verdadeira intenção; de me levar para devaneios nefastos, receber todas as suas entidades ludibriosas ou?.. Meu Deus! Será que ela é isca de ladrão e só está averiguando o ambiente, se certificando que toda manhã eu saio de casa esse horário? O portão pesou toneladas e junto as minhas pernas a minha surrada pasta caiu como uma folha sem rasuras e amassos, firme, mas silenciosa. Um suor frio e sufocante lavava todo o meu rosto fazendo tremer todo o meu ser. Queria voltar, sair daquele portão, não mais ver aquelas pessoas que passavam pela calçada como se estivesse tramando contra mim. Um nó se formou na garganta como um grito grosso e forte querendo sair de uma só vez. As folhas velhas e mortas não se direcionavam mais a sombra da copa ao chão, mas parecendo estarem sendo enviadas pelas mangueiras como foguetes de papel alinhados em minha direção. O sol frisou todas as copas que frondosas não permitia a sua passagem, tentando com um dos seus raios me atingi e assim comecei a desviar daqueles ataques foi quando percebi três crianças paradas de um tudo; dos picolés segurados firmes e que estavam a pingar em suas roupas, dos olhos que fixos estavam, dos movimentos, da atmosfera, do vento que neles não tocavam... Só para fixos aqueles olhos fuzilantes estarem a me olhar. Muito rápido como uma flecha certeira as perguntas vieram a me questionar o que eu não conseguiria explicar, mas algo muito forte me fez crer que eles estariam ali para me abduzir e que toda aquela atmosfera foi uma preparação para o momento que se aproximava. Não lutarei contra o meu destino e as descobertas que eu iria fazer. Serei eu o primeiro ser humano a ter contato direto com ETs? Abrirei os braços e sorridente me entregarei a eles e só agora estava entendendo tudo, do porque toda aquela conspiração da natureza, da minha sensibilidade apurada, da minha inquietação. Não estou louco.
Como tinha planejado o último momento na terra; de abri os meus braços e gritar com toda força e alegria:

         - Podem me abduzir meus ETs queridos! Podem me levar!

As crianças soltaram os picolés que já era mais palito que picolé e saíram gritando desesperadamente.
O portão que eu não conseguia mexer agora já não existia empecilho, as folhas já não conspiravam mais e as pessoas passavam apressadas sem perceber que existia naquele velho portão de ferro um homem renascido.

 JUSCIO MARCELINO

quarta-feira, 25 de abril de 2012



QUERO VOAr

O sol começava a nascer e vinha manhosamente espreguiçando-se por trás de umas palmeiras imperiais que não sei como cresceram ali durante várias gerações e amontoadas espaçavam-se margeando o terreiro da cozinha do casarão da minha avó paterna. 

-Bom dia!

A preguiça da noite molemente como geleia escorria da minha cama e bocejando os meus olhos abriam para a vida. Janela aberta e cortinas brancas e transparentes a brincar de tica com o vento matinal igual a crianças em euforia formavam balões de ar em forma de desenho de nuvens e hipnotizado estava parado a contemplar.

-Bom dia!!

Insistentemente o dia pedia para acordar, sair daquela cama quentinha e gostosa e vim comtemplar o horizonte de forma vertical. Era muito mais forte do que eu aquela doce vontade de ficar deitado, olhando paras as telhas e cortinas a dançar eeu ali, deitado, quietinho com a mente limpa, sem nada a desenhar.  O cheiro da noite ainda reinava no ar e lentamente outros cheiros do dia iam se misturando, proporcionando uma fusão colossal. Mais um bocejo de leão aquecia todo o meu corpo que naturalmente espreguiçava-se em toda a expansão da cama.

-Bom dia!!!


            Entrou porta adentro como um bravio touro a buscar o meu olfato, puxando pelas narinas a ponto de intimá-las ao restante do corpo acordar. Aquele aroma agradável, forte e inconfundível do café coado da minha avó. Naquele momento senti vontade de criar asas, voar até a cozinha, tragar aquele néctar dos deuses e voltar flutuando, feliz para deitado o meu corpo acordar.