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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

ORGASMO



Uma corrente grossa e forte descia do imenso céu azul. Eram elos enormes e retorcidos na suavidade de um cetim. O vento brumal que vinha do sul como um sopro carinhoso do deus do tempo embalava no balanço e no silvo aquele enorme pendão como um capinzal em brisa de verão. Alguns pingos cintilantes perolal desprendiam-se aladamente daquela bela e harmoniosa escultura azul. Os raios ofuscantes e lacivos do sol proporcionavam um brilho fugaz que penetrava cravejantemente na água marinha unindo pingos e gotas, céu e mar.
Por um longo tempo o meu relógio não marcou tempo algum. O período que compenetrado estava admirando aquele espaço como uma fotografia viva passou feito andorinhas em revoada, mas calmo, pouco espesso e assim distraído fiquei. Se não o rasgar de uma gaivota em disputa de território, a minha viajem alucinógena reinaria em terras de ninguém por mais um bom e interminável tempo. A cabeça aos poucos ia ficando proporcionalmente reações em comando aos seus, ativando todas as áreas, coordenando harmoniosamente o despertar de um momento mágico e feliz.
A nostalgia me abraçava carinhosamente reportando-me aos pingos alados e correntes em cetim azul. O embalo, o abraço, aconchego do céu e o mar como um real casamento de ilusões pairava nas minhas células, em todo o meu ser.
As forças ainda não me tomavam por inteiro e despreocupadamente me deixava relaxar na certeza de querer perenemente ficar, de está ainda mais um pouco naquela ilusão celestial, naquela farra mental, naquele embalo de amor. A minha frágil situação me permitia fusões de emoção, provocava os sentimentos, sentidos e eclosões de um salgado líquido sutilmente febril que banhava deliberadamente a inerte porta da ilusão. Sentindo o vento a bater, a areia fina a acariciar era o sinal do final daquele momento impar e que certamente não se repetiria jamais.