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sábado, 5 de março de 2011

O PÁSSARO CINZA



O pássaro cor de chumbo descansava no fio elétrico. O tempo nublado visto pela janela do primeiro andar caracterizava uma cena parisiense.
                                  -Vista em cartão postal?

Não sei. A paisagem expunha telhados e copas de mangueiras frondosas, pedaços de fachadas e partes de quintais. Se escutava ao longe gritos alegres de crianças a brincar nas poças de água das ruas desertas provocada pela chuva que banhava aquela pequena cidade interiorana e cantava a escorrer nas biqueiras das casas.

                                 - Você vê o que fala?

Vejo o pássaro cor de chumbo que empoleirado no fio olha para mim. Escuto e imagino na inercia do meu abandono os sons que da rua vem em sua intensidade e recodifico visualmente e que agora acabo de falar. Acredito que nesse momento o senhor do tempo enxuga as bordas da mesa de jantar com a sua toalha de linho azul fazendo escorrer até nós em forma de chuva o que bebido estava sendo, em uma ceia, banquete ou só degustava o precioso liquido da vida..

                                   - O que?

Meio surreal o que falo, mas em muitas das vezes pensamos assim, só que não expomos porque soaria estranho, assim como soou para você agora.

                                   - Tá.


-Vejo um gato cinza no fio.

O pássaro!




Juscio Marcelino
(sábado), 05 de março de 2011