QUERO
VOAr
O sol começava a nascer e vinha manhosamente espreguiçando-se por trás de
umas palmeiras imperiais que não sei como cresceram ali durante várias gerações
e amontoadas espaçavam-se margeando o terreiro da cozinha do casarão da minha
avó paterna.
-Bom dia!
A preguiça da noite molemente
como geleia escorria da minha cama e bocejando os meus olhos abriam para a
vida. Janela aberta e cortinas brancas e transparentes a brincar de tica com o
vento matinal igual a crianças em euforia formavam balões de ar em forma de
desenho de nuvens e hipnotizado estava parado a contemplar.
-Bom dia!!
Insistentemente o dia pedia
para acordar, sair daquela cama quentinha e gostosa e vim comtemplar o
horizonte de forma vertical. Era muito mais forte do que eu aquela doce vontade
de ficar deitado, olhando paras as telhas e cortinas a dançar eeu ali, deitado,
quietinho com a mente limpa, sem nada a desenhar. O cheiro da noite ainda reinava no ar e
lentamente outros cheiros do dia iam se misturando, proporcionando uma fusão
colossal. Mais um bocejo de leão aquecia todo o meu corpo que naturalmente
espreguiçava-se em toda a expansão da cama.
-Bom dia!!!
Entrou
porta adentro como um bravio touro a buscar o meu olfato, puxando pelas narinas
a ponto de intimá-las ao restante do corpo acordar. Aquele aroma agradável,
forte e inconfundível do café coado da minha avó. Naquele momento senti vontade
de criar asas, voar até a cozinha, tragar aquele néctar dos deuses e voltar
flutuando, feliz para deitado o meu corpo acordar.