A BEIRA DE UMA LUCIDEZ
Saindo de casa para mais um dia de descobertas no
mundo do conhecimento, parei no primeiro batente do velho portão de ferro,
segurei o ferrolho desgastado e ali fiquei a olhar as coisas, pessoas, as
folhas e papeis de embrulhos soltos ao ar. Uma lacuna se abriu na monotonia
diária, daquela velha rotina; Será que todos os dias essas pessoas passam por
aqui? As folhas mortas dos frondosos pés de mangueiras caem diariamente e se
juntam ao que jogado é pelas pessoas que ali passam. Quem são eles? De onde vem?
Para onde vão? Porque eu nunca tinha me sentido de tal forma? Percebi que o
vento soprava diferente naquela manhã sombria. Sombria? Será que todas as
manhãs eram daquele jeito e eu nunca tinha notado? Os porquês circulavam
os meus pensamentos como um enxame de abelhas. Pára! Será que eu estou
surtando? Nunca me senti tão inseguro.
-Bom dia.
O que? Quem
será? Porque me cumprimentou? Será que essa senhora me conhece de algum lugar ou
só quis ser educada? Será que ela está interessada em algo mais e com aquela
saudação ela tentou me fazer entender a sua verdadeira intenção; de me levar
para devaneios nefastos, receber todas as suas entidades ludibriosas ou?.. Meu
Deus! Será que ela é isca de ladrão e só está averiguando o ambiente, se
certificando que toda manhã eu saio de casa esse horário? O portão pesou
toneladas e junto as minhas pernas a minha surrada pasta caiu como uma folha
sem rasuras e amassos, firme, mas silenciosa. Um suor frio e sufocante lavava
todo o meu rosto fazendo tremer todo o meu ser. Queria voltar, sair daquele
portão, não mais ver aquelas pessoas que passavam pela calçada como se
estivesse tramando contra mim. Um nó se formou na garganta como um grito grosso
e forte querendo sair de uma só vez. As folhas velhas e mortas não se
direcionavam mais a sombra da copa ao chão, mas parecendo estarem sendo
enviadas pelas mangueiras como foguetes de papel alinhados em minha direção. O
sol frisou todas as copas que frondosas não permitia a sua passagem, tentando
com um dos seus raios me atingi e assim comecei a desviar daqueles ataques foi
quando percebi três crianças paradas de um tudo; dos picolés segurados firmes e
que estavam a pingar em suas roupas, dos olhos que fixos estavam, dos
movimentos, da atmosfera, do vento que neles não tocavam... Só para fixos aqueles
olhos fuzilantes estarem a me olhar. Muito rápido como uma flecha certeira as perguntas
vieram a me questionar o que eu não conseguiria explicar, mas algo muito forte
me fez crer que eles estariam ali para me abduzir e que toda aquela atmosfera
foi uma preparação para o momento que se aproximava. Não lutarei contra o meu
destino e as descobertas que eu iria fazer. Serei eu o primeiro ser humano a
ter contato direto com ETs? Abrirei os braços e sorridente me entregarei a eles
e só agora estava entendendo tudo, do porque toda aquela conspiração da
natureza, da minha sensibilidade apurada, da minha inquietação. Não estou
louco.
Como tinha
planejado o último momento na terra; de abri os meus braços e gritar com toda
força e alegria:
- Podem me abduzir meus ETs queridos!
Podem me levar!
As crianças
soltaram os picolés que já era mais palito que picolé e saíram gritando
desesperadamente.
O portão que eu
não conseguia mexer agora já não existia empecilho, as folhas já não
conspiravam mais e as pessoas passavam apressadas sem perceber que existia naquele
velho portão de ferro um homem renascido.
JUSCIO MARCELINO