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segunda-feira, 21 de maio de 2012



NUNCA DIGA NUNCA






Entre os cadernos e lápis da minha bolsa escolar, aluno do quinto ano na Escola Estadual Prof. Paulo Nobre (Macaíba/RN) encontro um pedaço de papel mimeografado divulgando uma apresentação teatral. Era um espetáculo sacro, organizado por Isabel Cruz junto com o professor e padre Pedro. Vários dos alunos que estudavam comigo participavam do espetáculo e se reuniam as tardes na residência de dona Isabel, mais conhecida por madrinha Beleza, na rua Nossa Senhora da Conceição. Nunca tinha visto um teatro e não tinha nenhum pouco de interesse de ver. Só sabia que os meus colegas estariam vestidos com umas cáfitas que mais parecia roupa de mulher. Eu morava com a minha mãe meu irmão na casa da minha avó na rua vizinha, Dona Emília, e naquela tarde me prontifiquei de ir comprar o pão na padaria do senhor Zé Paulo só para passar lá na casa do ensaio e zoar com a cara dos meus colegas de sala de aula.

O meu olho corria por toda a rua da Conceição, dançando sob ordem da minha expectativa. Minha mão gelada de tanta ansiedade pedia calma para um cérebro que não respondia. O que irei encontrar lá?
Era uma casa enorme, de paredes grossas e residência de poucos privilegiados. Tudo aquilo me intimidou. Menino negro, magricela, cabeçudo e pobre. Observei distante por um bom tempo e percebi que os meus colegas estavam super envolvidos, saltitantes, brincaram de tica, pega pega e foi quanto Zé Antonio apareceu e chamou todos. Zé estudava comigo e morava naquela fantástica casa. Foi quando tomei coragem e parti para a realizacão do meu tão esperado plano.

Silenciosamente fui entrando naquela enorme casa de inúmeras portas. Vi a criançada em volta de uma velha em uma cadeira de rodas, que por sinal era a sábia madrinha Beleza, o padre que também era o meu professor de Ensino Religioso e o Zé Antonio que dava um de auxiliar de direção.
-É esse o que faltava, padre?
Aquela mulher chegando por trás, sem eu esperar, me segurando pelo braço e me expondo para toda a sala. A sensação era de um feroz monstro me atacando de surpresa e eu sem ter como me defender. Era a governanta da casa e mãe de criação de Zé Antonio. O que fazer numa situação dessa? Meu professor e os meus colegas de turma estavam olhando pra mim como se questionando o que eu estava fazendo ali.

-Afinal de contas, ele é da turma de vocês ou não?

-É sim, Maria. Zé Antonio, o Juscio irá fazer São Pedro.

Desse dia em diante eu nunca mais deixei o teatro. Madrinha Beleza, a quem muito devo, faleceu, o padre Pedro deixou a batina e eu continuo nessa maravilhosa cidade escrevendo para teatro. No espaço entre o ontem e o hoje muita coisa aconteceu. Juscio continuou com o trabalho de Isabel Cruz encenando para a igreja, criando o GRUTEJAM (Grupo de Teatro de Jovens Amadores de Macaíba) com sede nos fundos da igreja, criou o FESTIM Festival de Teatro Infantil de Macaíba), fundou a ASTMA (Associação de Teatro Amador de Macaíba), participou da FETERN (Federação de Teatro do Rio Grande do Norte) e da CONFENATA (Confederação Nacional de Teatro Amador). Hoje a idade já pesa um pouco e vejo que tudo que nós plantamos foi destruído, apagado pelo tempo, esquecido na memória dessa cidade e desconhecido para as novas gerações. A minha esperança é que um dia você leia esse artigo e que tenha o poder da transformação em suas mãos, mesmo que não seja artista, mas uma pessoa sensível ao que os nossos antepassados plantaram de bom nessa terra tão fértil.

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OBRIGADO POR ESTÁ COMIGO E LENDO VISUALMENTE O MEU EU. ABRAÇÃO!!!

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